sexta-feira, 9 de setembro de 2011

9º Capítulo - Parte 2

Parte anterior: Diego conta para Lani que Samantha quer voltar a ser amiga dela. Lani não acredita que Samantha sente saudades e briga com Diego. Para ler, clique AQUI.




            Fim de sábado.
            Domingo.
            Segunda.
            Diego chutou revoltado a porta do seu quarto. Já haviam se passado três dias e Lani não o procurara. Três dias que os dois não se viam, nem se falavam e para piorar ela havia faltado aula naquele dia, o que o deixava preocupado.
            Estava chateado com Lani, não podia negar. Puxa vida, ela dissera em sua cara que amava um homem que estava morto! De repente ele sentia raiva de Gabriel, mesmo sem conhecê-lo, mesmo sabendo que não tinha esse direito, o rapaz estava morto! Como poderia ter ciúmes de um defunto?
            Lani estava errada.
            Tinha sido egoísta quando não acreditara que Samantha queria a amizade dela de volta. Seria perfeito se as duas voltassem a serem amigas, não conseguia entender por que Lani fazia tanta resistência.
            Esperara ansioso que ela o procurasse e dissesse que estava tudo bem entre ela e Samantha.
            _Vai ver ela não gosta tanto de você assim, idiota! – Disse para si mesmo com raiva.
            Não poderia haver outra explicação.
            Sentia saudades dela e não se sentia bem em ficar tanto tempo sem falar com Lani, não gostava dessa distância, mas também não deixaria o seu orgulho para ir atrás dela. Não mesmo! Se tinha alguém que devia pedir desculpas, esse alguém era Lani. Por isso esperaria até que ela fosse até ele e se desculpasse.


            Emanuelle olhou cansada para o livro.
            Assim que terminara a aula de dança fora para a biblioteca e tinha passado o restante da tarde de segunda-feira estudando aquele livro, agora não suportava mais ler sequer uma palavra. Estava cansada.
            Esticou os braços demoradamente e então fechou os olhos por alguns segundos, depois voltou a abri-los. Olhou de novo para o livro, faltavam apenas alguns parágrafos para terminar aquele capítulo, não compensava parar ali no meio do caminho.
            Respirou fundo e com preguiça deitou a cabeça sobre o livro. Terminaria de estudar aquele capitulo, mas primeiro precisava descansar um pouco. Ficou apenas alguns segundos com os olhos fechados, pois sentiu alguém tocar seu ombro.
            _Adivinha quem está acordando a bela adormecida?
            Emanuelle levantou a cabeça revoltada e olhou para Matheus que sorria.
            _Ta longe de ser um príncipe! – Disse com raiva.
            _Isso foi uma tirada? – Matheus perguntou enrugando a testa.
            Emanuelle fechou o livro com raiva e ficou de pé:
            _Tire suas próprias conclusões.
            Não estava com paciência e nem com vontade para suportar Matheus, estudaria outro dia. Ela sequer podia entender por que tinha tanta raiva dele, talvez porque ele parecera ser alguém que pudesse gostar dela, mas se enganara, o coração dele já estava ocupado.
            _Você não está com raiva é de mim, é? – Matheus perguntou tentando entender as atitudes de Emanuelle.
            Quando a conhecera ela parecera ser super amigável, mas depois daquele dia ela sequer o olhava, quando passava por ele fingia não conhecê-lo e agora estava toda nervosa. O que poderia ter acontecido, afinal?
            Emanuelle pegou o livro e ia se afastar, mas sentiu Matheus segurá-la pelo braço.
            _Será que você pode, por favor, conversar comigo? Não estou te entendendo, Emanuelle. Por que está assim comigo? O que eu te fiz?
            Ela sentiu o rosto corar. Como dizer que estava decepcionada por ele não estar afim dela? Como dizer que estava magoada por ter interpretado as atitudes dele de outra maneira?
            _Solta o meu braço, Matheus! Tive um dia difícil, estou cansada e não tenho tempo para ficar batendo papo na biblioteca. – Emanuelle disse brusca, com os olhos baixos não o fitava.
            Matheus obedeceu envergonhado.
            Emanuelle caminhou até as estantes de livros, Matheus a seguiu falando baixo:
            _Acho que você está precisando conversar. Podíamos sair, trocar uma ideia, você desabafa, tomamos um suco. O que você acha?
            _Primeiro, eu não estou com nenhuma vontade de conversar. Segundo, quem disse que eu confio em você para ficar desabafando?
            Matheus sentiu a fala sumir por alguns segundos, mas ainda a seguindo, não desistiu:
            _Podíamos, sei lá, marcar um dia para estudarmos juntos, você me ajuda com algumas matérias, talvez eu possa te ajudar com alguma coisa também. Ou se você preferir, poderíamos ir ao cinema ou tomar um sorvete.
            Emanuelle largou o livro na estante e se virou de frente para Matheus, só então olhou em seus olhos:
            _Você por acaso está me convidando para um encontro?
            Matheus sorriu tímido:
            _Se a sua resposta for um sim, sim.
            Ela segurou para não gargalhar alto. Então o garoto apaixonado por Samantha a estava convidando para sair. Isso não era bom, não mesmo.
            _E então? – Matheus perguntou ansioso.
            _É bom que eu não me arrependa.
            _Então é um sim?
            Emanuelle sorriu:
            _É. – disse sem muita animação.
            _Eu prometo que não vai se arrepender. – Matheus disse sorrindo e então inesperadamente a beijou rápido na testa.
            Um sorriso iluminou o rosto de Emanuelle ao sentir os lábios quentes do rapaz tocar a sua testa fria.
            Matheus se afastou sorrindo e ela continuou parada, ainda sentindo os lábios dele.
            Para ela aquele beijo inesperado na testa significava duas coisas, que ele a respeitaria e que ele jamais partiria seu coração.
            Emanuelle então soube que podia confiar em Matheus.


            Diego olhou, da varanda de sua casa, Samantha se aproximar e sentar numa cadeira ao lado da sua.
            _Pensando em que? – Ela perguntou.
            _Em nada. – Ele respondeu quieto.
            Passara o restante da tarde sentado na varanda da frente da casa com o telefone na mão esperando pela visita ou pelo telefonema de Lani, algo que não acontecera.
            _Você está sumida. – Diego comentou sem muito interesse. – Onde se meteu durante todo o final de semana?
            _Estou trabalhando numa música nova. Sabe como eu sou, né? Não paro enquanto não termino.
            Diego continuou em silêncio.
            _É uma música boa, mas ainda sinto que falta alguma coisa.
            _Sei... – Ele disse apenas.
            _Você acha que Lani vai me perdoar? – Samantha perguntou inesperadamente.
            Diego pareceu finalmente despertar do sono e então olhou para Samantha:
            _Você falou com ela?
            _Não, não... Na verdade ainda estou tomando coragem, não é fácil.
            _Ah...
            _E então? Você acha que ela me perdoa?
            _Eu acredito que sim. – Diego disse com o olhar distante.
            Samantha também olhou para o nada e então disse baixo:
            _Tenho minhas dúvidas, são muitas marcas, muitas feridas... Ah, eu queria tanto que tudo voltasse a ser como antes, mas sei que isso nunca vai acontecer. Gabriel faz falta demais.
            Diego ouviu triste o nome de Gabriel, sentia inveja dele.
            _Como ele era? – Perguntou curioso, precisava saber mais do rapaz que ainda era dono do coração de Lani.
            Samantha pareceu se perder no tempo, os olhos de repente se encheram de brilho e os lábios sorriram:
            _Ele era... Como posso descrevê-lo?
            _Apenas descreva, oras. – Diego disse incomodado.
            _Bom, para começar, ele era bem diferente de você. – Samantha disse brincando. Ele sentiu o peito apertar. – Totalmente desafinado, mas adorava música e isso não o impedia de cantar. Moreno, cabelos sempre bagunçados, um pouco compridos. Sempre alegre, apaixonado pelo mar, e ao contrário de você ele adorava estudar, tirava as melhores notas e não ligava tanto para festa, mas estar perto dele era muito melhor do que estar em qualquer festa porque ele tornava tudo a sua volta alegre.
            Diego sequer podia olhar para Samantha, tinha medo de que ela percebesse a amargura que se formava nele naquele momento. Como podia competir com alguém tão diferente dele? Lani jamais o amaria como amara Gabriel.
            _Gabriel era um ignorante, teimoso e irritante. – Samantha disse rindo. – Ele também tinha os seus defeitos, mas ele era o nosso amigo, o nosso irmão, o nosso amor. – Lágrimas brilharam nos olhos dela. – Como eu queria que ele voltasse! Mas eu sei que é impossível... Quando a noite cai, eu olho para as estrelas e posso ouvi-lo cantar desafinado: “Porque eu amo estar ao teu lado, eu amo ouvir a tua voz, teu jeito menina de ser, eu amo acreditar que Deus fez você pra mim, eu pra você...”.¹
            Samantha interrompeu a música e ficando de pé sussurrou:
            _Preciso ir.
            Antes que Diego pudesse dizer alguma coisa, ela se afastou correndo em prantos.

Continua ... 


         ¹ Todas as tardes - Herinque Cerqueira




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