Parte anterior: Diego conta para Lani que Samantha quer voltar a ser amiga dela. Lani não acredita que Samantha sente saudades e briga com Diego. Para ler, clique AQUI.
Fim
de sábado.
Domingo.
Segunda.
Diego
chutou revoltado a porta do seu quarto. Já haviam se passado três dias e Lani
não o procurara. Três dias que os dois não se viam, nem se falavam e para
piorar ela havia faltado aula naquele dia, o que o deixava preocupado.
Estava
chateado com Lani, não podia negar. Puxa vida, ela dissera em sua cara que
amava um homem que estava morto! De repente ele sentia raiva de Gabriel, mesmo
sem conhecê-lo, mesmo sabendo que não tinha esse direito, o rapaz estava morto!
Como poderia ter ciúmes de um defunto?
Lani
estava errada.
Tinha
sido egoísta quando não acreditara que Samantha queria a amizade dela de volta.
Seria perfeito se as duas voltassem a serem amigas, não conseguia entender por
que Lani fazia tanta resistência.
Esperara
ansioso que ela o procurasse e dissesse que estava tudo bem entre ela e
Samantha.
_Vai
ver ela não gosta tanto de você assim, idiota! – Disse para si mesmo com raiva.
Não
poderia haver outra explicação.
Sentia
saudades dela e não se sentia bem em ficar tanto tempo sem falar com Lani, não
gostava dessa distância, mas também não deixaria o seu orgulho para ir atrás
dela. Não mesmo! Se tinha alguém que devia pedir desculpas, esse alguém era
Lani. Por isso esperaria até que ela fosse até ele e se desculpasse.
Emanuelle
olhou cansada para o livro.
Assim
que terminara a aula de dança fora para a biblioteca e tinha passado o restante
da tarde de segunda-feira estudando aquele livro, agora não suportava mais ler
sequer uma palavra. Estava cansada.
Esticou
os braços demoradamente e então fechou os olhos por alguns segundos, depois
voltou a abri-los. Olhou de novo para o livro, faltavam apenas alguns
parágrafos para terminar aquele capítulo, não compensava parar ali no meio do
caminho.
Respirou
fundo e com preguiça deitou a cabeça sobre o livro. Terminaria de estudar
aquele capitulo, mas primeiro precisava descansar um pouco. Ficou apenas alguns
segundos com os olhos fechados, pois sentiu alguém tocar seu ombro.
_Adivinha
quem está acordando a bela adormecida?
Emanuelle
levantou a cabeça revoltada e olhou para Matheus que sorria.
_Ta
longe de ser um príncipe! – Disse com raiva.
_Isso
foi uma tirada? – Matheus perguntou enrugando a testa.
Emanuelle
fechou o livro com raiva e ficou de pé:
_Tire
suas próprias conclusões.
Não
estava com paciência e nem com vontade para suportar Matheus, estudaria outro
dia. Ela sequer podia entender por que tinha tanta raiva dele, talvez porque
ele parecera ser alguém que pudesse gostar dela, mas se enganara, o coração
dele já estava ocupado.
_Você
não está com raiva é de mim, é? – Matheus perguntou tentando entender as
atitudes de Emanuelle.
Quando
a conhecera ela parecera ser super amigável, mas depois daquele dia ela sequer
o olhava, quando passava por ele fingia não conhecê-lo e agora estava toda
nervosa. O que poderia ter acontecido, afinal?
Emanuelle
pegou o livro e ia se afastar, mas sentiu Matheus segurá-la pelo braço.
_Será
que você pode, por favor, conversar comigo? Não estou te entendendo, Emanuelle.
Por que está assim comigo? O que eu te fiz?
Ela
sentiu o rosto corar. Como dizer que estava decepcionada por ele não estar afim
dela? Como dizer que estava magoada por ter interpretado as atitudes dele de
outra maneira?
_Solta
o meu braço, Matheus! Tive um dia difícil, estou cansada e não tenho tempo para
ficar batendo papo na biblioteca. – Emanuelle disse brusca, com os olhos baixos
não o fitava.
Matheus
obedeceu envergonhado.
Emanuelle
caminhou até as estantes de livros, Matheus a seguiu falando baixo:
_Acho
que você está precisando conversar. Podíamos sair, trocar uma ideia, você
desabafa, tomamos um suco. O que você acha?
_Primeiro,
eu não estou com nenhuma vontade de conversar. Segundo, quem disse que eu
confio em você para ficar desabafando?
Matheus
sentiu a fala sumir por alguns segundos, mas ainda a seguindo, não desistiu:
_Podíamos,
sei lá, marcar um dia para estudarmos juntos, você me ajuda com algumas matérias,
talvez eu possa te ajudar com alguma coisa também. Ou se você preferir, poderíamos
ir ao cinema ou tomar um sorvete.
Emanuelle
largou o livro na estante e se virou de frente para Matheus, só então olhou em
seus olhos:
_Você
por acaso está me convidando para um encontro?
Matheus
sorriu tímido:
_Se
a sua resposta for um sim, sim.
Ela
segurou para não gargalhar alto. Então o garoto apaixonado por Samantha a
estava convidando para sair. Isso não era bom, não mesmo.
_E
então? – Matheus perguntou ansioso.
_É
bom que eu não me arrependa.
_Então
é um sim?
Emanuelle
sorriu:
_É.
– disse sem muita animação.
_Eu
prometo que não vai se arrepender. – Matheus disse sorrindo e então inesperadamente
a beijou rápido na testa.
Um
sorriso iluminou o rosto de Emanuelle ao sentir os lábios quentes do rapaz
tocar a sua testa fria.
Matheus
se afastou sorrindo e ela continuou parada, ainda sentindo os lábios dele.
Para
ela aquele beijo inesperado na testa significava duas coisas, que ele a respeitaria
e que ele jamais partiria seu coração.
Emanuelle
então soube que podia confiar em Matheus.
Diego
olhou, da varanda de sua casa, Samantha se aproximar e sentar numa cadeira ao
lado da sua.
_Pensando
em que? – Ela perguntou.
_Em
nada. – Ele respondeu quieto.
Passara
o restante da tarde sentado na varanda da frente da casa com o telefone na mão
esperando pela visita ou pelo telefonema de Lani, algo que não acontecera.
_Você
está sumida. – Diego comentou sem muito interesse. – Onde se meteu durante todo
o final de semana?
_Estou
trabalhando numa música nova. Sabe como eu sou, né? Não paro enquanto não
termino.
Diego
continuou em silêncio.
_É
uma música boa, mas ainda sinto que falta alguma coisa.
_Sei...
– Ele disse apenas.
_Você
acha que Lani vai me perdoar? – Samantha perguntou inesperadamente.
Diego
pareceu finalmente despertar do sono e então olhou para Samantha:
_Você
falou com ela?
_Não,
não... Na verdade ainda estou tomando coragem, não é fácil.
_Ah...
_E
então? Você acha que ela me perdoa?
_Eu
acredito que sim. – Diego disse com o olhar distante.
Samantha
também olhou para o nada e então disse baixo:
_Tenho
minhas dúvidas, são muitas marcas, muitas feridas... Ah, eu queria tanto que tudo
voltasse a ser como antes, mas sei que isso nunca vai acontecer. Gabriel faz
falta demais.
Diego
ouviu triste o nome de Gabriel, sentia inveja dele.
_Como
ele era? – Perguntou curioso, precisava saber mais do rapaz que ainda era dono
do coração de Lani.
Samantha
pareceu se perder no tempo, os olhos de repente se encheram de brilho e os lábios
sorriram:
_Ele
era... Como posso descrevê-lo?
_Apenas
descreva, oras. – Diego disse incomodado.
_Bom,
para começar, ele era bem diferente de você. – Samantha disse brincando. Ele
sentiu o peito apertar. – Totalmente desafinado, mas adorava música e isso não
o impedia de cantar. Moreno, cabelos sempre bagunçados, um pouco compridos.
Sempre alegre, apaixonado pelo mar, e ao contrário de você ele adorava estudar,
tirava as melhores notas e não ligava tanto para festa, mas estar perto dele
era muito melhor do que estar em qualquer festa porque ele tornava tudo a sua
volta alegre.
Diego
sequer podia olhar para Samantha, tinha medo de que ela percebesse a amargura
que se formava nele naquele momento. Como podia competir com alguém tão
diferente dele? Lani jamais o amaria como amara Gabriel.
_Gabriel
era um ignorante, teimoso e irritante. – Samantha disse rindo. – Ele também
tinha os seus defeitos, mas ele era o nosso amigo, o nosso irmão, o nosso amor.
– Lágrimas brilharam nos olhos dela. – Como eu queria que ele voltasse! Mas eu
sei que é impossível... Quando a noite cai, eu olho para as estrelas e posso
ouvi-lo cantar desafinado: “Porque eu amo estar ao
teu lado, eu amo ouvir a tua voz, teu jeito menina de ser, eu amo acreditar que
Deus fez você pra mim, eu pra você...”.¹
Samantha
interrompeu a música e ficando de pé sussurrou:
_Preciso
ir.
Antes
que Diego pudesse dizer alguma coisa, ela se afastou correndo em prantos.
¹ Todas as tardes - Herinque Cerqueira