quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A visita - parte II - Recordações

Para não se sentir perdido, leia A visita- parte I


Era impossível não reconhecer aquela pequena pinta perto dos lábios, os olhos negros, enormes e inquietos.
_Olá Mary?Você se lembra de mim?

"Como poderia não me lembrar?"

_Claro que sim, André.

Ele sorriu:

_Quanto tempo em?

_Pois é... Você ainda se lembra de mim?

_Claro que sim... Ninguém aqui se esqueceu de você Mary.

_Sei...

_É verdade... Principalmente a Daisy, acho que ela foi a que menos esqueceu de você.

Daisy?Uau, como poderia ter me esquecido dela?Éramos amigas inseparáveis!

_Lembra dela?

_Como poderia esquecer?-Menti.

_O seu pai pediu para que eu viesse te buscar, ele não poderá vir.

_Só um minuto então. Vou me trocar.

Subi as escadas correndo e entrei no quarto, estava surpresa demais.

Olhei-me no espelho e então comecei a me lembrar de tudo.

André era o meu primeiro amor, eu era louca por ele, tinha apenas oito anos, mas já era a garota mais apaixonada da cidade. Nunca tive coragem de contar à ele, a única pessoa que sabia era a Daisy.

Como poderia me lembrar de tanta coisa depois de tanto tempo?
Perguntei a mim mesma, quando comecei a me lembrar que o picolé preferido de André era o de uva, seu sorvete favorito era de banana e chiclete só se fosse de língua azul...
Não tinha nada sobre o André que eu não soubesse e agora depois de tanto tempo, continuava me lembrando de tudo.

Ele morava de frente para minha casa. Todos os dias no fim do dia, com o pôr do sol, nos sentávamos na calçada. Daisy e eu de um lado, e André e seus amigos do outro... Naquele tempo eu podia jurar que André ficava me olhando, me admirando e me achando linda... Agora, eu não tenho mais certeza de nada.

Vesti uma calça e uma camiseta preta.

Olhei pela janela e vi um carro estacionado, nada grande, pequeno e com a pintura um pouco arranhada, mas parecia bastante confortável.

Suspirei fundo, as lembranças insistiam em me perseguir.

Era como se voltasse no tempo e então me lembrei do dia em que os meus pais me disseram que iríamos mudar de cidade. Eu chorei, pulei, dancei... Fiz tudo que uma garota de oito anos poderia fazer para mudar os pais de idéia, mas não tinha volta...

Mudei de cidade com os meus pais, no começo estava inconsolável, mas não demorou mais de uma semana e eu já havia feito novos amigos, me esquecendo rapidamente do amor de infância.

_Dizem que o primeiro amor à gente nunca esquece. -Disse pra mim mesma.

Desci as escadas, André olhava pela janela e balançava inquieto a chave do carro na mão.

_Pronto - disse.

Ele se virou surpreso.

_Desculpe. Eu estava com o pensamento tão longe que acabei me assustando com a sua chegada.

_Tudo bem, André. Não precisa pedir desculpas.

_Então vamos?

_Claro.

Caminhamos em direção ao carro, ele sorriu.

_O carro não parece nada com o do seu pai, mas eu garanto que ele anda.

Eu ri:

_Não se preocupe André, não ligo muito para coisas materiais.

_Não acredito muito nisso.

_Não?

Entrei no carro.

_O seu pai fez essa piscina só porque vocês viriam para cá.

Eu ri, ele riu também.

Só então reparei como era lindo.

Sua pele morena bem bronzeada, os olhos pretos e grandes, o sorriso branco, os lábios carnudos e vermelhos. O corpo visivelmente sarado e um olhar sedutor.

Ele me olhou:

_O que está pensando?-Perguntou.

Meu Deus! Eu estava do lado de um deus grego!


Continua....

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