quarta-feira, 28 de março de 2012

12º Capítulo - 1

Parte anterior: Diego se vê diante da escolha: Contar para Lani que a traiu com Michele ou terminar tudo com Lani sem dizer a verdade. E ele escolhe ocultar o que aconteceu, deixando Lani sem escolha quando termina com ela sem dizer o verdadeiro motivo. Lani fica arrasada, pois percebe que é apaixonada por ele. Para ler, clique AQUI!



             Segunda-feira.
            Emanuelle entrou na biblioteca pensativa, tinha passado o domingo na casa de Lani e não conseguia entender o que havia acontecido com Diego.
            Quem poderia entender os homens?
            Ver como Lani estava péssima fez com que ela percebesse que também não estava bem.
            Todos aqueles acontecimentos, aquela atitude inexplicável de Diego fez com que se sentisse vulnerável, insegura quanto ao amor. Tudo tão arriscado, tão inseguro, nada garantido... O amor parecia ser algo que podia te fazer feliz num minuto e extremamente infeliz no seguinte.
            Percorreu pensativa a biblioteca quando esbarrou em alguém, assustada levantou os olhos.
            _É, parece que só nos encontramos na biblioteca. – Ela disse sorrindo.
            Matheus sorriu também:
            _Resolvi finalmente estudar... – Ele riu nervoso e então relaxou. – Mentira, vi você entrando e te segui.
            Emanuelle riu e então se lembrou de Lani, talvez Matheus pudesse ajudar a entender o que havia acontecido, afinal ele era amigo de Diego.
            _Acho que te devo desculpas né? – Ele disse um pouco envergonhado. – Prometi um encontro já faz algum tempo e não fiz nada.
            Emanuelle sorriu:
            _Você mudou de ideia, tudo bem, eu não vejo problema nenhum nisso. Talvez tenha sido melhor assim.
            _Mudei de ideia? Claro que não! Como pode pensar isso? Na verdade só está tudo muito corrido pra mim, e também precisava de tempo, colocar as coisas no lugar.
            Emanuelle revirou os olhos e sorriu rapidamente.
            Que ótima desculpa! Todos os homens pareciam tão iguais. Por que tudo devia acontecer no tempo deles? Pensava revoltada quando ouviu Matheus dizer receoso.
            _Que tal jantar comigo hoje?
            Ela olhou pra ele e decidiu não se render tão fácil.
            _Você tinha prometido um primeiro encontro incrível... – Não terminou a frase, mas esperou que ele entendesse o que ela queria dizer.
            Ele entendeu.
            _Eu tive algumas ideias, mas não vejo nada demais elas ficarem para um segundo encontro.
            Emanuelle pensou por alguns segundos e então lembrou-se de Lani. Aquele jantar seria perfeito para tentar entender a atitude idiota de Diego.
            _Tudo bem, eu preciso mesmo conversar com você. Aceito o jantar.
            Ele sorriu satisfeito.


            Já era fim de tarde e a escola estava quase completamente vazia.
            Lani entrou no auditório e caminhou devagar até o palco.
            Como aquele lugar mudara, antes era menor, e não tão bonito. Mas apesar das mudanças, continuava impregnado de lembranças, momentos vividos quando Lani e Samantha eram boas amigas.
           
            Samantha correu rápido e pulou para o palco. Gabriel veio logo atrás e Lani chegou por último tentando manter a respiração, nunca fora muito boa com exercícios físicos.
            O auditório estava vazio. Somente os três.
            _Anda, Lani, toca pra gente!
            Lani sentou e tocou os dedos no teclado.
            _Acho que deveríamos cantar algo bem sexy hoje. – Gabriel disse rindo.
            Lani o olhou surpresa e Samantha pulou nas costas dele rindo:
            _Quem vê assim até pensa que você canta.
            Gabriel riu.
            _Certo, então acho que vocês deveriam cantar algo bem sexy hoje.
            _Para, ele nem canta tão mal assim, Sam!
            Samantha gargalhou alto:
            _E você é uma péssima mentirosa, Lani. Mas conta pra gente, Nino, por que algo sexy? Conheceu alguma garota é? Pode contar tudo pra gente.
            Gabriel agarrou Samantha pela cintura e a fez sentar se no mesmo banquinho de Lani.
            _Vamos cantar, Sam! Isso é o que importa!
            _Gabriel! – Lani quase gritou. – O que você pensa que pode esconder da gente heim?
            Gabriel riu.
            _Para, meninas. Não tem nenhuma garota, ta? Pelo menos não ainda.
            _Ainda? – Samantha e Lani gritaram em coro.
            _Gabriel, eu sempre te conto dos meus relacionamentos, não pode esconder os seus da gente!
            Lani disse sem segurar a risada:
            _E olha que os dela não são poucos!
            Samantha deu uma tapa de leve em Lani e olhou para Gabriel.
            _Tudo bem, Gabe. Te damos uma semana pra contar pra gente, combinado?
            Gabriel riu e então Lani começou a tocar.

            Agora, ali, depois de tanto tempo, ela ainda podia ouvir a voz de Gabriel desafinada tentando acompanhar as duas garotas, que cantavam uma música animada. Era sempre assim o fim de tarde, a alegria era rotina.
            Tudo parecia tão simples, sincero, inocente e perfeito. Quando foi que tudo aquilo se perdera?
            Uma lágrima correu dos olhos de Lani quando ela subiu até o palco e passou lentamente a mão sobre o piano.
            Ninguém podia imaginar...  Se pelo menos alguém pudesse prever o futuro. Se pelo menos alguém tivesse avisado que o destino lhes pregariam uma peça, que a amizade seria testada, talvez tivessem sido mais fortes. Talvez tivessem sobrevivido.
            Sentou perto do piano e deixou seu dedo percorrer lentamente cada tecla. Fazia tanto tempo que não tocava e sentia tanta saudade.
            Lá estava ela de novo, de frente ao mesmo piano. Mas nada era igual.
            Não tinha mais Gabriel.
            E também não tinha mais Samantha.
            Mas tinha ela, com a dor, com o medo e com a raiva.
            Deixou que seus dedos começassem a tocar uma música. Começou com algo nostálgico, melancólico e sem vida. Notas arrastadas que saiam do coração dela, notas acompanhadas pelas lágrimas que molhavam sua face e exprimia tudo que estava guardado ali há tanto tempo e que nunca fora dito.
            Todas aquelas notas eram para Gabriel. Queria dizer que sentia muito, que estava com saudades e que o amava ainda. Queria que ele soubesse o quanto estava arrependida, poder dizer que tinha tomado a decisão errada e que por conta disso tudo tinha acabado, mas que nunca fora sua intenção.
            Quando por fim a tristeza foi expressa, as lágrimas secaram e então começou a tocar algo mais forte, seus dedos batiam com força nas teclas do piano. Era a raiva, raiva de Diego, raiva de toda aquela situação. Raiva por sua vida ser tão difícil.
            Os seus dedos se moviam com precisão e força, assim como o seu rosto expressava o mesmo sentimento emitido pelo som. Seu cabelo mexia com os movimentos da sua cabeça, que acompanhava a música cheia de revolta.
            Até que tudo finalmente acabou, e ela sentiu o seu peito se apertar numa dor ainda maior, a dor do vazio, de olhar e não ver um futuro, de não ver nada. Os dedos foram parando lentamente e quando não mais se moveram sua cabeça também caiu sobre o piano e dos seus olhos lágrimas se negaram a correr.
            No entanto, embora houvesse parado de tocar, o silêncio não havia chegado. Ela podia ouvir um barulho, aplausos fortes que se aproximavam dela.
            Alguém estava no auditório e a ouvira tocar.
            Cansada e surpresa, Lani levantou a cabeça e então viu, parado na sua frente, ainda batendo palmas, o professor de música, Henrique.
            _Quem é você? E por que não está nas minhas aulas de música?
            Lani engoliu em seco.
            Pegou sua bolsa que estava no chão e ficou de pé, estava disposta a sair rápido dali.
            _Espera! – Ele pediu segurando o seu braço. – Estou falando sério aqui, mocinha.
            _É Lani. – Ela disse seca. – E não estou nas suas aulas de música porque não toco mais, nem canto. Não existe mais música na minha vida.
            _Então o que foi isso se não foi música?
            _Foi sentimento, foi raiva, tristeza, dor. – Ela disse lentamente.
            Ele soltou seu braço devagar e disse emocionado:
            _Nunca vi nada mais perfeito em toda minha vida. Não de alunos.
            _Tenho que ir.
            _Por favor, não vá. Você canta também?
            _Não mais, já disse que não existe mais música na minha vida.
            Ele balançou a cabeça incrédulo.
            _Não acredito. Não pode mentir desse jeito para mim, eu vi como você tocou! Garota, você tem o talento que eu estava procurando. Você tem emoção na sua música, tem vida! Eu preciso de você nas minhas aulas! Aliás, eu não sei como você pode estar em outro lugar... O seu lugar é aqui nesse auditório!
            _Já me inscrevi nas aulas de desenho, não posso mudar.
            _Isso não é problema. Eu posso fazer sua transferência num segundo.
            _Mas eu não quero. Será que você não entende?
            _O que? Não, eu não entendo por que uma garota tão talentosa está enterrando seu talento. Não entendo!
            Lani caminhou devagar até a cadeira do auditório e se sentou. Henrique fez o mesmo.
            _Antes a música era alegria, era amizade, dias de sol... A música era tudo! E... Eu não podia me imaginar sem ela, era como se faltasse o ar, a vida. Mas agora? Agora... –Ela respirou fundo os olhos cheios de lágrimas. – Agora... Agora a música é dor! É nostalgia, melancolia, aperto... Eu não posso mais! Porque não existe mais alegria, amizade ou dias de sol, não existe mais nada disso.
            Ele tocou com carinho na mão dela:
            _Pois então vou te apresentar um lado da música que talvez ainda não conheça. A música é refúgio, é terapia, ela alcança os lugares da nossa vida que mais nada alcança. Você só precisa saber colocar todo esse sentimento na música, na melodia... E então você vai ver como tudo vai ficar mais fácil!
            _Não é tão simples assim, não quando a música te causa dor! É diferente!
            _Escuta, Lani. Você não pode colocar a culpa na música, não foi ela que provocou os problemas da sua vida. Você não pode impedir que pessoas se emocionem ouvindo a sua música. Sabe por quê? Porque a música te escolheu. Não é qualquer pessoa que consegue colocar em simples notas todos os sentimentos que passam no profundo da alma. Não é qualquer pessoa! E você consegue! Lani, você consegue emocionar com a sua música, consegue atingir a alma de outra pessoa apenas tocando num piano!
            Lani respirou fundo tentando digerir tudo o que ouvia.
            Não queria se render, tinha medo. Mas também não podia deixar de se sentir emocionada diante das palavras do professor.
            _Por mais que no começo doa, depois você vai ver como a música vai tornar as coisas mais fáceis pra você, ela vai ser a porta.
            _E se eu não conseguir? Eu não sou tão boa assim. Tenho medo de só abrir mais feridas, mais mágoas.
            _Eu prometo de ajudar. Sim, no que for preciso, Lani. Eu estarei aqui.
            Lani respirou fundo e fechou os olhos por alguns segundos. Sentia-se tentada a participar das aulas de música, mas tinha tanto medo de fracassar. Tinha medo da dor, do passado e de todo mal que poderia lhe acontecer.
            _Vamos, Lani. Por favor, aceite.
            _Você só me viu tocar uma vez, nem sabe se sou boa de verdade.
            _Te ouvir tocar uma vez foi suficiente pra mim. Mas já que você prefere, cante uma música pra mim. Quero ouvir sua voz.
            Lani subiu novamente no palco, pegou um violão guardado na sala de instrumentos e alguns segundos depois começou a tocar e cantar.
            _ “Invernos. Impérios. Mistérios. Lembranças. Cobranças. Vinganças. Assim como a dor que fere o peito, isso vai passar também. E todo o medo, o desespero e a alegria, e a tempestade, a falsidade e a calmaria, e os teus espinhos e o frio que eu sinto, isso vai passar também.” ¹
            Henrique aplaudiu empolgado.
            _Perfeito! Quarta-feira te vejo na minha aula!

Continua ... 

             ¹ Tempo - Sandy

 

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