quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Na estrada

Para melhor entendimento, leia primeiro o post Solidão.



Olhei para trás e só então me dei conta de que estava sozinha com o André.

_O Carlinhos adoraria ir...

André balançou a cabeça negativamente:

_Ele arrumou uns companheiros não sei na onde e me disse que ia jogar bola hoje.

_Ah... O Carlinhos é doido por bola. -Expliquei.

_Eu também era na idade dele. -André riu - Hoje eu só jogo nos finais de semana.

Lembrei do Caco, ele era doido por um jogo de futebol, não perdia um.

_Então vamos só nós dois?

André me olhou sério:

_Algum problema?Se tiver, eu posso arranjar outra pessoa... Mas eu te garanto Mary, que eu não vou te atacar, nem fazer qualquer coisa que...

_Eu não tenho medo de você André. -disse séria.

“Na verdade” pensei “tenho medo de mim mesma e dos meus sentimentos malucos”.

_Então está tudo bem em ir só nós dois?Se tiver avisa logo, que já vamos sair da cidade.

_O papai concordou em ir só nós dois?Ele confia mesmo em mim, né?

André riu concordando.

Ficamos em silêncio, ele dirigia também calado. Pela primeira vez tive vontade de saber o que se passava pela cabeça dele naquele momento.

De repente ele se virou pra mim e disse:

_Todos nós esperávamos que vocês viessem atrás do seu pai.

_Hã?

_Sim, Mary. Há três anos, quando seu pai voltou. Ele disse que tinha se separado, mas na verdade todo mundo esperava que sua mãe mudasse de ideia e viesse morar com ele.

_Sério?

_Até ele acreditava nisso... Ele sempre gostou dela, acho que foi por isso que ele nunca arrumou outra namorada.

Olhei para André, aquele assunto me interessava muito.

_Então quer dizer que o papai esperava que a mamãe mudasse de ideia?

_Sim, ele tinha certeza disso.

_Meu Deus!-coloquei a mão na cabeça, ele me olhou sem entender nada, então eu expliquei – A minha mãe esperava a mesma coisa da parte dele.

_É?

_Ela tinha certeza de que ele se arrependeria e voltaria para ela e ela o receberia de braços abertos, ela sofreu demais exatamente por esperar demais e amá-lo demais.

_Mas o tempo passou... E nenhum dos dois abriu mão do orgulho.

Concordei.

Ele ficou calado.

Acomodei-me e olhei pela janela do carro:

_Tudo que eu mais queria era que eles voltassem um para o outro.

André apenas me olhou, mas nada disse.

O som estava ligado e passava uma música calma, acabei adormecendo.

Abri os olhos assustada.

André passava a mão nos meus cabelos e sorria.

_Chegamos dorminhoca.

Ri, tentando disfarçar o nervosismo que aquele toque me causava.

Ele afastou a mão e abriu a porta do carro:

_Vamos?

Continua


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