Para melhor entendimento, leia primeiro o post Solidão.
Olhei para trás e só então me dei conta de que estava sozinha com o André.
_O Carlinhos adoraria ir...
André balançou a cabeça negativamente:
_Ele arrumou uns companheiros não sei na onde e me disse que ia jogar bola hoje.
_Ah... O Carlinhos é doido por bola. -Expliquei.
_Eu também era na idade dele. -André riu - Hoje eu só jogo nos finais de semana.
Lembrei do Caco, ele era doido por um jogo de futebol, não perdia um.
_Então vamos só nós dois?
André me olhou sério:
_Algum problema?Se tiver, eu posso arranjar outra pessoa... Mas eu te garanto Mary, que eu não vou te atacar, nem fazer qualquer coisa que...
_Eu não tenho medo de você André. -disse séria.
“Na verdade” pensei “tenho medo de mim mesma e dos meus sentimentos malucos”.
_Então está tudo bem em ir só nós dois?Se tiver avisa logo, que já vamos sair da cidade.
_O papai concordou em ir só nós dois?Ele confia mesmo em mim, né?
André riu concordando.
Ficamos em silêncio, ele dirigia também calado. Pela primeira vez tive vontade de saber o que se passava pela cabeça dele naquele momento.
De repente ele se virou pra mim e disse:
_Todos nós esperávamos que vocês viessem atrás do seu pai.
_Hã?
_Sim, Mary. Há três anos, quando seu pai voltou. Ele disse que tinha se separado, mas na verdade todo mundo esperava que sua mãe mudasse de ideia e viesse morar com ele.
_Sério?
_Até ele acreditava nisso... Ele sempre gostou dela, acho que foi por isso que ele nunca arrumou outra namorada.
Olhei para André, aquele assunto me interessava muito.
_Então quer dizer que o papai esperava que a mamãe mudasse de ideia?
_Sim, ele tinha certeza disso.
_Meu Deus!-coloquei a mão na cabeça, ele me olhou sem entender nada, então eu expliquei – A minha mãe esperava a mesma coisa da parte dele.
_É?
_Ela tinha certeza de que ele se arrependeria e voltaria para ela e ela o receberia de braços abertos, ela sofreu demais exatamente por esperar demais e amá-lo demais.
_Mas o tempo passou... E nenhum dos dois abriu mão do orgulho.
Concordei.
Ele ficou calado.
Acomodei-me e olhei pela janela do carro:
_Tudo que eu mais queria era que eles voltassem um para o outro.
André apenas me olhou, mas nada disse.
O som estava ligado e passava uma música calma, acabei adormecendo.
Abri os olhos assustada.
André passava a mão nos meus cabelos e sorria.
_Chegamos dorminhoca.
Ri, tentando disfarçar o nervosismo que aquele toque me causava.
Ele afastou a mão e abriu a porta do carro:
_Vamos?
Continua