Passei a noite viajando.
Quando cheguei em casa o dia já estava raiando.
Abri a porta lentamente, estava com medo.
Todos estavam na sala, achei que o meu coração fosse parar de bater. Estava com medo até perceber que todos estavam dormindo.
Carlinhos estava deitado no sofá menor e roncava.
Mamãe estava deitada no peito de papai que estava com o braço passado pelos ombros dela. Ambos dormiam.
Olhando assim parecia uma família feliz.
Senti saudades do tempo que morávamos todos juntos.
Caminhei até a escada e já estava subindo quando tropecei fazendo barulho.
_Mary?-Ouvi a voz de papai.
Voltei.
Mamãe estava acordando, logo os dois estavam de pé.
_Quanto tempo vou ficar de castigo? Um ano?-perguntei querendo pular a parte da bronca e ir direto para o castigo.
Mamãe me olhou brava e depois olhou para o papai.
Foi então que algo inacreditável aconteceu.
Meu pai estendeu a mão e segurou na mão de mamãe.
Eu olhei para aquelas mãos unidas e depois olhei para o rosto de ambos. O que eu tinha perdido enquanto estava fora?
_Gláucia ligou ontem e avisou que você já estava voltando.-Mamãe disse séria.
_Gláucia fez isso?-perguntei sem acreditar.
_Fez.Você pode nos explicar por que viajou sem avisar ninguém? Queria nos matar do coração, Mary?
Eu não sabia o que dizer.Tudo estava confuso demais.
_Você só não vai ficar de castigo porque foi graça a essa sua irresponsabilidade que eu e sua mãe nos acertamos!
Olhei para o papai de boca a berta e depois olhei para minha mãe. Ela sorria um sorriso de orelha a orelha.
Foi então que a ficha caiu e eu comecei a pular de felicidade.
Estávamos voltando a ser uma família!
_Isso é perfeito, perfeito! Ah! Que ótimo!-Gritei abraçando os dois.
_Vai ficar sem mesada os próximos meses, dona Mary. Esse vai ser o seu castigo.-Papai disse sério.
_Mas você disse que não teria castigo!-reclamei.
_Não. Você merece uma punição, agiu com muita irresponsabilidade!
Eu estava eufórica de felicidade, minha vontade era de ficar pulando sem parar.
Até que uma coisa passou pela minha cabeça:
_Onde vamos morar?
Eles me olharam sérios, a resposta eu já sabia. Era óbvia.
_Vamos nos mudar todos para cá.-Mamãe disse.-Aqui tem uma boa faculdade, tem Daisy e Angélica. E eu já não me importo de largar o meu serviço, ele não substitui o amor. Além do mais, tenho certeza que encontrarei algum emprego por aqui. Essas mudanças também te farão bem.
Eu virei as costas e subi correndo as escadas.
Quer dizer que de nada adiantaria mostrar a gravação agora? De qualquer forma eu não voltaria mais a morar perto de Eduardo!
Será que o amor seria capaz de resistir à distância?
Uma dor subiu pelo meu peito.
E não demorou muito para que lágrimas inundassem o meu rosto e molhassem o lençol da cama na qual eu tinha me jogado.
Será que já era o fim?
Continua